Lixo tratado com responsabilidade é reciclado e gera emprego e renda na cidade

Associação recolhe até 35 toneladas de lixo reciclável por mês.FOTO: Semco / Lucas Calazans

Associação recolhe até 35 toneladas de lixo reciclável por mês.FOTO: Semco / Lucas Calazans


O prazer de cuidar do Meio Ambiente e a necessidade de sobrevivência, juntos, transformam a vida dos catadores de materiais recicláveis da Acamarp - Associação Beneficente dos Catadores de Materiais Recicláveis de Nova Rosa da Penha, criada em 2001. Natura Cosméticos, Águia Branca, Brasitalia, Ambev, Transilva e Elma Chips são parceiras do projeto. Doam materiais, como cobre, alumínio, jornais, revistas, sacolas plásticas, garrafas pet, copos descartáveis e embalagens tetra PAC que, depois, viram renda para a comunidade.


“Eu vi na Associação uma forma de todos terem direitos iguais, através de um trabalho que considero majestoso, como qualquer outro”. É o que diz a presidente da Associação, Maria Izabel Alves, 52. Para a presidente da Acamarp, muita coisa melhorou com a legalização da Associação e com o apoio da prefeitura. “Com a Associação legalizada, pudemos trazer programas do governo, como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e o Bolsa Família; e tiramos as crianças do lixão. Hoje é bem mais fácil um filho de catador frequentar a escola sem ser taxado de lixeiro”, afirma.


Ainda segundo Maria Izabel, os profissionais, hoje, recebem em média R$ 500 (quinhentos reais) por mês. E, se não tivessem que pagar o aluguel do caminhão que transporta o material e serviços para manutenção da Associação, o lucro seria maior. “Quando conseguirmos comprar nosso caminhão a situação vai melhorar. Temos também gastos com contador”, reforça.


Etapas


Luzenita Lima Meirelles, 70, trabalha como catadora há 10 anos, acompanhou o processo desde o inicio, do lixão às margens da Rodovia do Contorno até a conquista da legalização e a chegada ao galpão. Ela também acredita que as condições estão melhores. “Melhorou. Porque quando estávamos no lixão, não tínhamos salário”, diz. Dona Luzenita, como é chamada pelos colegas, diz que se não fosse catadora, trabalharia com vendas. “Meu sonho era ter um comércio, trabalhar com vendas. Mas não tenho leitura”. Porém, muito inteligente, ela completa. “Com esse trabalho a gente está limpando o meio ambiente. É um prazer ajudar o meio ambiente a ficar mais limpo”.


Do lixão à dignidade


Antigamente, a coleta dos materias recicláveis era realizada diretamente no lixão, que ficava às margens da Rodovia do Contorno. Crianças e adultos ficavam em contato direto com os resíduos. Atualmente, o grupo trabalha em um galpão cedido pela prefeitura, e também conta com o apoio do caminhão da empresa Marca Ambiental, responsável pela coleta de lixo da cidade.


Até 35 toneladas recolhidas


O projeto, que reúne 16 associados e recolhe de 27 a 35 toneladas de resíduos por mês, atua em parceria com o Cariacica Recicla, um projeto que visa à separação do lixo em resíduos secos e úmidos, a coleta seletiva, a reciclagem e a destinação correta desse material.


Bairros modelo de reciclagem


O Cariacica Recicla é mantido pela Prefeitura e funciona há mais de cinco anos com as parcerias importantes da Marca Ambiental, da Fundação Banco do Brasil e da ArcellorMittal. Neste tempo, já conquistou avanços no sentido de capacitar e reunir os catadores de materiais recicláveis da associação, em Nova Rosa da Penha.
Além destes números, desde maio do último ano, o Cariacica Recicla, que é realizado nos bairros Vila Capixaba e Caramuru, já retirou do lixo que seria aterrado 86 toneladas de lixo seco, que foram reciclados.


Números do lixo de Cariacica (média mensal):


- Lixo separado pela Acamarp: 27 a 35 toneladas/mês;


- Total de lixo coletado no município: 9.500 toneladas/mês (60% de lixo orgânico)


Outros agentes da reciclagem:


A boa experiência registrada com os recicladores da Acamarp tem seus pares no mundo empresarial. Junto ao trabalho de formiguinha essencial que esses agentes promovem, pequenas e médias empresas trabalham com a reciclagem e destinação final do material vindo das ruas. Aquilo que acumularia como lixo, volta para o consumo, gerando emprego e renda para a comunidade, em Cariacica.


A Bio Coco, por exemplo, empresa que surgiu do processo de incubação ligado ao Instituto Marca de Desenvolvimento Socioambiental (Imadesa), funciona com autonomia no município e se prepara para ampliar a produção, em parceria com a Acamarp.


Segundo números de 2012, são processadas cerca de 30 toneladas de coco por mês. Porém, após convênio com a Prefeitura de Vitória, esse número passará a 120 toneladas. “Estamos fechando convênio com a Acamarp para produção de artesanato com a fibra de coco, o que gerará renda e desenvolvimento social na comunidade, ao mesmo tempo em que o resíduo deixa de retornar de maneira prejudicial ao meio ambiente”, analisa Avelino Neto Abreu, administrador da Bio Coco.


Com serviços parecidos, outras empresas seguem a missão de transformar o lixo em desenvolvimento. Também foram desenvolvidas a Biomarca, que processa óleo de cozinha, transformando-o em sabão e óleo diesel; e a Revertec, que pratica a manufatura reversa de eletroeletrônicos.


Há também a empresa Mundo Feliz, que faz a reciclagem de embalagens de plástico de consumo caseiro e peças de plástico de uso industrial. No fim do mês, ela é responsável por manufaturar cerca de 10 toneladas de material que volta para a indústria e se transforma em novos produtos prontos para a comercialização. Apenas essas empresas, sem contar diversas outras, são responsáveis por retirar cerca de 251 toneladas de lixo do meio ambiente por mês, que voltam para a sociedade em forma de novos produtos. O retorno social também é relevante, sob forma de emprego e renda.


Informações Adicionais:


Texto: Marlon Marques e Lielle Serafim


Jornalista responsável: Evandro Costalonga