Artesão transforma casa inteira em ateliê para produzir fantasias de carnaval

Artista mostra sua casa-ateliê, onde produz as fantasias para o carnaval 2013.FOTO: Semco / Lucas Calazans

Artista mostra sua casa-ateliê, onde produz as fantasias para o carnaval 2013.FOTO: Semco / Lucas Calazans


A tribo africana Kimibundú oficialmente não existe na história do continente, mas já dominou por completo o território do artesão João Luís Vasconcelos. A tribo fictícia será uma das alas de encerramento do desfile do Grêmio Recreativo Escola de Samba Independente de Boa Vista, no dia 2 de fevereiro, no Sambão do Povo, representando a riqueza cultural da raça negra.


Sala, copa e três quartos estão tomados de armações em arame, ráfias, veludo, palha, pelúcia e até dentes de marfim. Mas tudo organizado, como o artesão gosta de trabalhar. A fantasia completa pesa em torno de sete quilos e deverá ser entregue aos foliões já a partir da próxima terça-feira. Ao todo, a ala terá 72 pessoas, a maior da escola na avenida.


Para realizar o trabalho, João, como prefere ser chamado, conta com a ajuda de cerca de 15 pessoas. “A motivação vem do fato de criar alguma coisa e ver o resultado, saber que terá um público para admirar o meu trabalho. As outras pessoas vêm pela minha motivação, pela amizade, porque sempre me apoiaram ou porque gostam de carnaval. Tem ainda algumas pessoas que vêm para aprender, que estão começando como eu comecei, indo aos barracões. Depois, quem sabe um deles se torna carnavalesco?”, disse.


Artesão do samba


fantasia_03


 Tudo começou aos 12 anos. Levado por um tio que tocava na bateria da Piedade (Vitória), João Luís desfilou pela primeira vez na escola da Fonte Grande. Aos 16, começou a frequentar os barracões das escolas de samba para trabalhar.


Em Cariacica, suas primeiras incursões no universo do carnaval foram na extinta União Jovem de Itacibá, agremiação na qual foi carnavalesco pela primeira vez. João também já assinou os desfiles da Originais do Contorno e da Mocidade da Praia, ambas de Vitória.


O artesão também já desenhou fantasias para a Boa Vista no passado e foi assistente de carnavalescos em diversas outras agremiações.


Aos 11 anos, João Luís começou a confeccionar bolsas de couro por conta própria. Autodidata, sempre quis aprender coisas novas, sempre buscando inovar e criar. Em seu ateliê, já trabalhou com quadros, esculturas, decoração e fez vitrines para lojas. Hoje, trabalha fazendo bolsas femininas, peças únicas com criação exclusiva.


Confecção das fantasias


A preocupação com a excelência fez com que o artesão decidisse por fazer as fantasias da ala Tribo Kimibundú de traz para frente. O que seria acabamento virou o primeiro passo. Os bordados de paetês já estão todos prontos. Gargantilhas, braceletes e cada peça da fantasia, cortadas e guardadas.


“Essa é uma coisa que sempre deixa todo mundo doido nos barracões e a pressa acaba prejudicando. Então, para ter a tranquilidade de fazer tudo exatamente igual e para ter o controle do material, fiz todas as peças primeiro. Agora é só montar”, explicou.


O desafio maior, segundo ele, é fazer os costeiros. Por ser a peça maior, mais detalhada e por ser a que dá mais visibilidade. “Tem que sair perfeito”, complementou, orgulhoso, mostrando os detalhes de seu trabalho.


A rotina de trabalho começa às 8 e segue até altas horas. Às vezes 2, às vezes 3 da madrugada. Para João, a noite é o período de maior produtividade. “E quando começo a trabalhar, esqueço de tudo, nem sinto fome, nem sede, se não vierem me dizer que está na hora de almoçar, passa batido”.


A dedicação é tanta que este ano o artesão não desfilará, estará junto de sua ala, mas ajudando na harmonia para que tudo saia perfeito. O objetivo? O tricampeonato da Boa Vista.



Artesão do Samba


Galeria de imagens


Semco/Lucas Calazans



Informações Adicionais:


Texto: Brunella França


Jornalista responsável: Evandro Costalonga