Censo de matrizes africanas inicia com entrega do selo Intolerância Zero

O endereço Rua Visconde do Rio Branco, 244, Campo Verde, entrou para a história da Gerência de Igualdade Racial, da Secretaria de Desenvolvimento Social de Cariacica. Isso porque, nesta terça-feira (5), aconteceu a entrega do primeiro selo Intolerância Zero realizada pelos recenseadores do município. Os técnicos são os responsáveis por fazer o mapeamento de todos os terreiros da cidade para que Cariacica conheça suas comunidades tradicionais de matrizes africanas.

IMG_9185 copiarA casa Ylê Asé Ygbá Osun, da yalorisa Leida Senna Ferreira, a Mãe Leida, foi escolhida por sorteio, na última sexta-feira, na solenidade de lançamento do selo, ocorrida na Câmara de Vereadores de Cariacica. “Estou há 20 anos neste endereço e esta é a primeira vez que o poder público vem até nós. Para nós, isso é uma vitória! “, comemorou Mãe Leida.

Ela destacou que a casa realiza muitos trabalhos com a comunidade e, a partir de agora, terá mais espaço, mais reconhecimento e sofrer menos preconceito. “A nossa religião é uma missão que vem dos antepassados da África. Nossa religião é um complemento das outras religiões. Com o mapeamento teremos espaço para que outras pessoas a entendam melhor. É uma religião bonita que procura ajudar as pessoas. Aqui todos são acolhidos”, destacou Mãe Leida.

Censo

IMG_9191 copiarDurante o mapeamento das comunidades tradicionais de matrizes africanas os representantes dos terreiros terão que responder um questionário com perguntas que envolvem desde religião até questões sobre a infraestrutura do local. O trabalho consistirá na visita a quatro terreiros por dia. “Nossa meta é o reconhecimento dessas casas para que possam ser inseridas nas políticas públicas do município”, ressaltou a gerente de Igualdade Racial, Adriana Silva.

IMG_9208 copiarA realização de mapeamentos socioeconômicos e culturais dos povos tradicionais de matrizes africanas têm por objetivo ampliar também o acesso às informações sobre essas comunidades. A previsão é de que o censo dure cerca de três meses. O grupo de recenseadores é formado por técnicos da gerência de Igualdade Racial, do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Conselho de Negras (os) de Cariacica (Conegro) e representantes das matrizes.

As religiões de matrizes africanas são parte da diversidade religiosa do Brasil. Entre algumas dessas manifestações, que têm como referência a cultura trazida pelos africanos durante mais de 300 anos de escravidão, estão catimbó, cabula e principalmente umbanda e candomblé, que se propagaram com mais intensidade.

Desde sua chegada ao país, os praticantes de religiões de matrizes africanas foram alvo de perseguições por manifestarem a sua fé. Mas ainda hoje, em 2016, os episódios de intolerância religiosa fazem parte do cotidiano. Por isso, muitas vezes essas comunidades não sabem dos seus direitos e deixam de ter acesso a coisas básicas relacionadas à saúde, educação e cultura.