Jovem artista transforma muro do Terminal de Campo Grande em galeria da cultura
Por Marcelo Pereira, postado em 07/11/2016
Fotos Lucas Calazans
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A lenda do Pássaro de Fogo é um dos temas registrados por Hiago Silva no muro do terminal de Campo Grande em Santo André
Um trecho do muro que circunda o Terminal de Campo Grande, em Santo André, está se transformando numa verdadeira galeria de arte ao ar livre. A mudança faz parte do projeto "Mural Cultural João Bananeira", em que o artista plástico Hiago Silva, 21 anos, preenche um espaço, antes cinzento e apático, com elementos e ícones da cultura popular de Cariacica. Com cores vibrantes e traços firmes, feitos a partir de tinta acrílica e em spray, vão surgindo a casaca do congo de máscaras de Roda D'Água, a dança do João Bananeira, a lenda do Pássaro de Fogo, a índia que se transformou no Monte Mochuara. Silva executa a obra com o auxílio do grafiteiro Will Marchesi, 21. No sol da tarde, a dupla vai atraindo os olhares de quem entra e sai do terminal e também de quem acessa o Faça Fácil, além dos passantes e motorista da Rodovia Leste Oeste. "Estou feliz em participar desse processo. Ter um público imenso desses como testemunha de uma obra minha, nascendo assim, ao alcance de todos é o sonho de todo artista", sintetiza.
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É o primeiro trabalho de grandes proporções de Hiago Silva. Até o final de novembro, ele espera concluir os 200 metros de extensão com personagens da cultura popular de Cariacica
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O grafiteiro Will Marchesi é o auxiliar de Hiago na execução da obra, que contou com apoio da Lei Cultural João Bananeira
Adepto da pintura sobre tela, o jovem artista resolveu encarar um desafio em sua trajetória ao se lançar num trabalho de muralismo. "Queria sair do ateliê com algo de grande impacto e esse trecho de 200 metros deste muro aqui do terminal chamou minha atenção. Com tanta visibilidade garantida, optei por uma temática que dialogasse com o nosso jeito de ser cariaciquense, despertando, ao mesmo tempo, curiosidade em quem não conhece as lendas e personagens e também orgulho para aqueles que já os conhecem mas que podem agora vê-los num contexto mais de dia-a-dia", explicou. Assim, sua ideia foi contemplada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura João Bananeira, da Secretaria Municipal de Cultura (Semcult). Os recursos liberados ao projeto foram de R$ 18.818,63.
Reações
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O lavador de carros Ezequiel de Souza, morador de Cariacica Sede, já se tornou um dos maiores admiradores do mural com os símbolos culturais da cidade
O mural começou a ser feito em setembro e segue até o final de novembro. Apesar de ainda não estar concluído, já chama a atenção. Muitas pessoas fazem selfies com seus smartphones. Outras param a caminhada, contemplam, voltam em sentido contrário para vislumbrar as figuras. O lavador de carros Ezequiel de Souza, 31, que atua ali, já adotou o muro como seu, numa apropriação afetiva. "Tem gente que não entende o que está sendo feito aqui e eu explico que é arte, que é para enfeitar a cidade, falando da própria cidade", reforça. Morador de Cariacica Sede, Souza passou a se interessar mais pelos temas que vê nascendo à sua frente. "Alguns eu já conhecia como o João Bananeira. Mas vou procurar saber sobre o Pássaro de Fogo", destaca.
Autodidata
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O artista Hiago Silva em seu ateliê: inspiração na pop art em suas telas figurativas, sempre com cores firmes e vibrantes
Morador de Cariacica, Hiago Silva é filho do escultor Hippolito Alves, outro artista da terra. O estudante do segundo período de Artes Plásticas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) começou a pintar ainda na infância como hobby. Ao chegar à adolescência, vendeu sua primeira obra, uma escultura. Mas os pincéis e as cores são verdadeiramente sua paixão e a pop art seu estilo de expressão. "O desenho sempre me atraiu. Mesmo numa época contemporânea em que estamos a todo instante bombardeados de imagens, a arte figurativa ainda tem muito o que dizer. O artista deve demarcar o seu estilo frente a esse cenário", conceitua. No muro, ele incluiu retratos de diversas etnias (negra, européia, asiática, indígena) dispostos ao lado com os símbolos culturais. "Quis enfatizar que somos uma cidade que flui também pela diversidade. Não somos um grupo fechado: somos negros, brancos, índios e amarelos pelo nosso jeito de acolher e dialogar com quem está disposto a trocar vivências e informações", finaliza.
Confira mais detalhes da pintura mural em Santo André: