Filarmônica Jovem encanta público em concerto de estreia

A Banda Filarmônica Jovem de Cariacica (BFJC) saiu do concerto de estreia com uma certeza: a cidade já a adotou como sua. Os 65 músicos regidos pelo maestro Frances Serpa mostraram a que vieram, numa performance surpreendente para somente dois meses de ensaios, realizados apenas uma vez a cada semana. A noite da última quarta-feira (10) ficou marcada por um Centro Frei Civitella lotado, em Campo Grande, com gente satisfeita com o que viu e lamentando pelo fim do espetáculo, após salvas de palmas entusiasmadas. O gostinho de quero mais será saciado em 5 de julho, no mesmo palco.

O grupo optou por um concerto em formato didático ganhando o público por isso. Ciente do desafio de conquistar a plateia com um repertório não tão habitual (já que se trata de peças para conjuntos de sopros), Serpa definiu por obras contemporâneas. Assim, o programa trouxe desde composições bastante conhecidas da cultura pop (casos de "A Pantera Cor-de-Rosa", de Henry Mancini, e a abertura da série "Game of Thrones", de Ramin Djawadi e Michael Brown) com o ineditismo de músicas mais ao acesso de quem aprecia música erudita. Ou seja, a seleção ali agradava a leigos e especialistas. LCV-0822

Antes de cada música, o maestro deu o tom de um encontro mais informal, falando brevemente sobre as peças e seus autores e apresentando os artistas e instrumentos de cada naipe. A atitude simpática serviu para tranquilizar a ansiedade de estreia dos jovens músicos, o que contou com a aprovação do público. Menos tenso, o grupo deu conta do recado, logo no início, tocando "Overture Jubiloso",  de Frank Erickson (1923-1996), numa clara demonstração de sua potência sonora, coesa e atenta às intenções do regente. O palco, então, ficou pequeno para tal sonoridade.

O repertório seguiu tranquilo e com a admiração dos ouvintes só crescendo. A obra inédita no Brasil, "Amazonia", de Chad Taylor, pedia a participação de nove percussionistas. A banda possui quatro mas nem por isso abaixou a cabeça. O quarteto de percussionista da BFJC foi um show à parte, mantendo o ritmo, executando sons que remetiam a instrumentos indígenas. Foi outra façanha que teve uma resposta entusiasmada do público presente.

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Maestro Frances Serpa lembrou da importância da parceria do poder público e da iniciativa privada para a continuidade do projeto



Idealizador do projeto que reuniu jovens músicos em torno do sonho da criação de um grupo de música clássica para a cidade, Serpa declarou que o mérito era da união de forças de quem acreditou num sonho. "O que queremos é oportunidade para mostrar nossa arte. Graças à confiança desses artistas nesse projeto e ao carinho e retorno de vocês, mostramos que há muito talento na cidade a ser trabalhado e vamos continuar batalhando por mais espaço para ampliarmos para uma orquestra futuramente", declarou, colocando a banda à disposição para receber recursos tanto da parte do poder público quanto da iniciativa privada.

Atualmente, a Banda conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura (Semcult), que cede o espaço do Centro Cultural para os ensaios. "É um grande orgulho para nós essa parceria. Temos condições de avançar muito. Certamente, a presença da Banda Filarmônica irá tornar o Frei Civitella mais conhecido", espera o secretário de Cultura, Erildo Denadai.

Músicos afinados

Em março deste ano, Serpa lançou o projeto de formar uma banda sinfônica. Pediu apoio à Semcult pois necessitava de um amplo espaço para ensaio e foi para as redes sociais, convocar os músicos. Contou também com o auxílio de seus colegas músicos. Dos 200 inscritos, foram selecionados 65. tubista Elvis Coutinho foi um deles. Ele já faz parte da Banda SinLCV-0776fônica da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) e recebeu o convite do próprio maestro. "Aceitei porque é mais uma oportunidade e um espaço para nós, músicos, nos apresentarmos. Também fico orgulhoso em saber que estou contribuindo para a cultura de Cariacica, apesar de morar na Serra. Arte não tem fronteira", opinou.

LCV-0781Participante da percussão, o músico Edson Neto é de Cariacica. Morador de Vale Esperança, ele também faz parte da Banda Sinfônica da Fames e ficou sabendo do projeto pelas redes sociais. "Achei bacana em participar porque é algo inédito para Cariacica", sintetiza.

O trombonista João Vitor Filgueira mora em Tabajara e começou tocando na banda da Emef Leonilda Langa, em Nova Valverde. "Nós avançamos LCV-0784muito nesses dois meses. Todo mundo se dedicou nesse repertório que não é fácil. Acredito que se a gente persistir vai dar certo e a gente entra para o calendário de eventos culturais da cidade", acredita.

LCV-0793Spalla da banda, sendo responsável pela afinação do conjunto, a clarinetista Huelainy Silva é spalla da Banda Filarmônica e vê no projeto uma oportunidade para os músicos mostrarem sua arte em Cariacica. "Sou da Serra e professora de música. Além de contribuir com o aprimoramento da cultura de Cariacica, vejo no projeto do maestro mais uma alternativa para que nós mostremos ao público nosso esforço pela arte", destaca.

 Público aprovou o que ouviu

Mais do que ouvintes atentos, o público que compareceu em massa ao Frei Civitella (houve quem assistiu ao concerto de pé) agora tem certeza que Cariacica conta, enfim, com um grupo na vertente de música erudita. E tal constatação veio acompanhada de adesões apaixonadas, com esperança para o aprimoramento da cultura de Cariacica.

Moradores de Campo Grande, Vanessa Morais e Artur Jacó Filho ficaram encantados com o que viram e ouviram. "A apresentação foi excepcional tendo em vista o pouco tempo de preparação com somente um ensaio por semana. Eles executaram o programa com perfeição", sintetiza. E ele fala por experiência própria já que é músico e toca trombone. A namorada, que toca flauta, concorda. "Adorei o repertório escolhido. Fez a gente apreciar obras inéditas, caso de 'Amazonia', e também algumas bem conhecidas como a abertura da série 'Game of Thrones'. Eles executaram muito bem, com segurança. E é um projeto interessante para a cidade. Vai transformar o nosso bairro em um ponto de cultura também", acredita.
Vanessa Morais e Artur Jacó Filho ficaram admirados com a performance dos músicos apesar do pouco tempo de ensaio

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Stefany Ferraz, de Viana, e Cézar Casagrande, morador de Campo Grande: aprovação da banda e alegria pelo bairro ter um evento cultural de grande porte



Stefany Ferraz é da cidade vizinha de Viana e ficou admirada com o concerto. "Para mim, foi surpreendente ver um evento desse porte acontecer em Cariacica. Foi muito interessante participar de algo tão diferente aqui em Campo Grande. E foi lindo!", exalta. Na sua opinião, uma atração como essa deve incentivar para que haja mais apoio na área cultural por parte de poder público e iniciativa privada bem como interesse nas pessoas para que acompanhem mais eventos de arte em geral.

Seu namorado, Cézar Casagrande, mora em Campo Grande e, pela primeira vez, foi ao Centro Cultural, depois da reforma, por causa do concerto. "Eu não tinha vindo aqui após a reforma e realmente é surpreendente. Agora, nós temos um espaço para cultura com atrações de qualidade porque a Banda Filarmônica Jovem foi ótima. Eu acredito que o projeto desse grupo vai fazer as pessoas em Cariacica passarem a apreciar mais eventos culturais. E o melhor: eles vão acontecer aqui, perto da nossa casa", comemora.