Pesquisa mostra que uma em cinco mulheres já sofreram violência

Uma mesa, um laptop e um par de fones de ouvido com um convite: "Aceita o desafio de ouvir esta mensagem?". A pessoa que passava e se sentia provocada pela proposta sentava-se sem saber o que viria em seguida. Ao colocar o aparelho sobre o ouvido, um choque. A gravação era de uma série de ligações recebidas pela Polícia Militar em casos de agressão física a mulheres. As próprias vítimas, ou alguém próximo, relatando o que estava ocorrendo. O áudio tem cerca de dois minutos e espantava a todos, mas mexia principalmente com quem já viveu esta situação.

Entre os participantes que toparam o desafio, várias mulheres se reconheciam nos áudios, em alguns dos muitos tipos de violência relatados. Sexual, física, psicológica, financeira, exposição da vida íntima, humilhação, não liberdade de crença, entre outros tipos.

A menina A. S., de 13 anos, há cerca de um mês, contou com auxílio da mãe, S. M., e denunciou um parente por violência sexual. Agora ela está fazendo acompanhamento psicológico e psiquiátrico, tomando medicação para evitar o processo de automutilação. "Eu não aceitava e não entendia o que acontecia, mas não sabia o que fazer. A única forma de reação que tive foi a automutilação. Eu até cortei os pulsos", contou. Sua mãe disse que a filha ainda não encontra apoio por parte da família do pai, que afirma ser apenas invenção da jovem, mas que ela mesma a entende pois também já foi vítima de violência sexual.

R. A., divulgadora de 20 anos e sua irmã mais nova, R. A., operadora de telemarketing de 19 anos, também viveram o terror da violência e ainda sofrem com as consequências dele. "É extremamente importante este tipo de ação, para que outras famílias não passem pelo que passamos durante anos. Hoje, nosso pai está preso e só por isso nossa mãe ainda vive. Ele a agredia sem pudor, na nossa frente. Quando tentávamos separar, nós também éramos punidas. Essa situação perdurou até que buscamos ajuda", contou a irmã mais velha enquanto lágrimas corriam o rosto.

Porém nem todo caso é apenas com a ação física. As palavras e atitudes também podem causar feridas. A balconista Rosiene Ramos, de 48 anos, que permitiu ser identificada, estava acompanhada do companheiro, Paulo Alves, 32, e do neto Davi. Ela se emocionou com os áudios e disse que muita gente não imagina essa realidade tão dura. "Só quem vive pode dizer realmente o que é. Uma palavra forte pode humilhar ou até aguçar uma reação mais violenta da própria mulher", comentou. Seu companheiro completou, "é importante termos autocontrole e saber que, na hora da discussão, a conversa é a melhor saída. Respeito, acima de tudo, com as mulheres".

Ainda durante a ação, a servidora pública G. T., de 39 anos, desabafou sobre as dificuldades de superar e elogiou a iniciativa. Ela ainda é vítima de violência doméstica. "Eu estou tentando sair, mas é muito difícil. Por muitas vezes apanhei até que decidi denunciar. Liguei para a PM, relatei os abusos, mas diante da reação do meu filho ao saber que o pai seria preso, recuei. Hoje não vivo mais com essa pessoa, mas ainda não tenho paz. Tenho medo porque sofro ameaças constantes dele", relatou chorando.

A ação é de iniciativa da Coordenação dos Direitos da Mulher (Codim), da Prefeitura de Cariacica, realizada nesta terça-feira (21), no Faça Fácil, em Campo Grande. O trabalho é parte de um projeto que busca conscientizar e educar crianças, adolescentes, homens e, principalmente as mulheres, sobre a importância de se debater o assunto. E, em casos de violência, nunca se calar. O Projeto Maria é Mais existe para mostrar à sociedade o que é violência e como deve-se agir diante dela. Dá mais clareza sobre a Lei Maria da Penha e sobre os meios de denunciar por meio de teatro, palestras e outras ações junto às escolas, comunidades e sociedade em geral.

Uma pesquisa, realizada em todas as apresentações, apontam dados críticos. Segundo o estudo, dos entrevistados 23% já sofreram algum tipo de violência, enquanto 50,9% conhecem alguém nesta situação. Por outro lado, 87,9% dizem saber onde procurar ajuda, mas apenas 52,4% conhecem a Delegacia da Mulher de Cariacica. Já sobre a Lei Maria da Penha, 83,8% já ouviram ao menos falar.

Neste fim de ano uma programação foi pensada para alcançar o máximo de pessoas e começar a mudar este quadro. A série de trabalhos culminará no dia 4 de dezembro com o simpósio Violência Contra as Mulheres: Diferentes Olhares.

 

Conheça a programação

Palestra Projeto Maria é Mais

quando: 22 de novembro

Hora: 9h

Local: CRAS de Porto Novo

 

Teatro Violência contra a Mulher

quando: 23 de novembro

Hora: 9h

Local: EMEF Tania Pôncio Leite, Vila Cajueiro

 

Palestra Violência Obstétrica

quando: 24 de novembro

Hora: 9h

Local: CREAS de Campo Grande

 

Palestra Patrulha Maria da Penha

quando: 24 de novembro

Hora: 9h

Local: CREAS de Itacibá

 

Teatro Violência contra a Mulher

quando: 27 de novembro

Hora: 8h às 11h

Local: EMEF Terfina Rocha Ferreira, em Itacibá

 

Palestra Projeto Maria é Mais


quando: 28 de novembro

Hora: 8h às 11h

Local: EMEF Terfina Rocha Ferreira, em Itacibá

 

Palestra Projeto Maria é Mais

quando: 29 de novembro

Hora: 8h às 17h

Local: EMEF Álvaro Armeloni, em Itacibá

 

Simpósio Violência Contra as Mulheres: Diferentes Olhares

quando: 4 de dezembro

Hora: 8h às 12h

Local: Centro Cultural Frei Civitella del Tronto, Campo Grande