Incentivo para a vida inspirado na poetisa Cora Coralina

Alfabetização começou em junho, atendendo a garis, coveiros e outros servidores da Semset.FOTO: Semco/Claudio Postay

Em junho, as letras compunham um mundo desconhecido para eles. Representavam barreiras. Em poucos meses nas aulas de alfabetização, garis, coveiros e demais servidores da Secretaria de Serviços e Trânsito (Semset), matriculados no curso, já veem as 26 letras do alfabeto e suas infinitas combinações como ferramenta para incentivar e transformar a própria existência. Aos poucos, a alfabetização permite que os alunos desenvolvam pequenos textos, poemas. Alguns deles estão afixados nas paredes da sala de aula, como uma espécie de troféu pelos primeiros passos no aprendizado, ou o aprimoramento dele, no caso dos semialfabetizados que, agora, retornam ao banco escolar. Um destes, mais desenvolto com as rimas, é Dárcio José Filipe, responsável pelo controle de entrada e saída da frota de veículos da Semset. É dele o poema na foto ao lado, dedicado às professoras, cujo tema é o amor.

Uma motivação extra no curso para o Dárcio e demais alunos veio em forma de desafio: os estudantes deveriam escolher um nome para a biblioteca criada no espaço anexo à sala de aula. Por semelhança com a história de vida, os alunos elegeram Cora Coralina. A escolha despertou o interesse em conhecer mais sobre a poetisa brasileira, gerando trabalhos escolares com resultados surpreendentes. “Cora Coralina teve aspectos da vida muito parecidos com os de muitos dos nossos servidores, podendo ser um exemplo para eles em relação ao aprendizado”, disse o secretário da Semset, Wellinghton Nascimento de Lima, idealizador do projeto.

Segundo a professora do curso de alfabetização, Edma Vieira, foram feitos trabalhos de pesquisa sobre a vida e a obra de Cora Coralina. Os alunos, como Dárcio (na foto ao lado), souberam que o verdadeiro nome dela foi Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nascida em Goiás, em 1889, e falecida em 1985. Foi poetisa e contista, considerada uma das principais escritoras brasileiras. Mulher simples, doceira de profissão, teve disposição para enfrentar a vida, driblando, inclusive, dificuldades financeiras. O primeiro livro publicado data de junho de 1965 (“Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”), quando completaria 76 anos de idade.

Exemplo

Foi imediata a identificação dos alunos, alguns iniciando a alfabetização com mais de 60 anos de idade, com a trajetória da poetisa que, apesar das dificuldades, manteve a capacidade de conservar a esperança de dias melhores e deixar um bom legado. Para o gari José dos Santos Siqueira, o Baiano, um motivo de orgulho é poder assinar o nome na folha de ponto do trabalho onde, antes, deixava a impressão digital. “Estou evoluindo. Cora é exemplo de esforço para mim”, comparou. O objetivo do gari é terminar os estudos, tirar carteira de habilitação e passar a motorista de caminhão da Semset.

Em uma autobiografia, outro aluno, Dejair Saleme Lopes, 50 anos, descreveu seu nascimento, na cidade de Pocrane, Minas Gerais; a vinda para o Espírito Santo, aos sete anos; a carência financeira da família, que levou à separação dos irmãos e à internação em um orfanato; o estudo até a terceira série primária apenas; a necessidade de trabalhar desde cedo; o casamento e a felicidade de, hoje, viver com a esposa. “Quero trabalhar, como sempre fiz, mas quero estudar para ir além, como Cora Coralina”, contou Dejair, que trabalha no setor de manutenção e conservação da secretaria de Serviços.

Alfabetização de Jovens e Adultos
O Curso de Alfabetização de Jovens e Adultos foi implantado oficialmente na Semset, no dia 17 de junho, durante uma aula inaugural. A primeira aula com os alunos foi dada em 24 de junho. As aulas acontecem todas as quartas, quintas e sextas-feiras, das 16h20 às 19h40. O curso foi viabilizado por meio de um convênio com a Superintendência Regional de Educação, do Governo do Estado. Inicialmente, 39 servidores da Semset, adultos analfabetos ou com a alfabetização incompleta, confirmaram a matrícula para ter a chance de iniciar ou completar essa etapa de aquisição de conhecimentos pela primeira vez. Entre os matriculados estão pessoas entre 29 e 63 anos de idade.

Serviço

Curso de Alfabetização de Jovens e Adultos na Semset

- Onde: auditório Professor José Osvaldo Meneghel, na secretaria de Serviços e Trânsito (Semset), Rua Manoel Laurentino, s/n, Sotema.
- Dias e horário das aulas: quartas, quintas e sextas-feiras, das 16h20 às 19h40.
- Público-alvo: servidores municipais analfabetos ou semialfabetizados.
- Informações e doação de material escolar e livros: 3346-6420 e 3346-6427.

Informações Adicionais:
Texto: Evandro Costalonga
Jornalista responsável: Marcelo Pereira