Cariacica fabrica joias do judô para o Brasil

Meninas de Cariacica são promessas do esporte no Brasil.FOTO: Semco/Claudio Postay

Duas joias brutas, filhas de Cariacica, começam a espalhar seu brilho pelo Brasil e pelo mundo. A história a seguir é das meninas Brenda Teixeira Justino, de 16 anos, e Juliana Souza Rodrigues, 14. Elas colecionam medalhas, troféus e conquistas inéditas no judô estadual, como o título panamericano de Juliana, recém conquistado na Argentina. O esporte que escolheram mudou suas vidas e seu exemplo pode ajudar a mudar a vida de outras crianças.

A primeira, mais velha, começou aos seis anos no mesmo projeto onde treina hoje, o Waza, do sensei Francisnei Sperandi. Há 10 anos, ela não via o judô com o mesmo amor que hoje e, além disso, tinha medo do professor, o que acabou afastando-a dos treinos. Porém, cinco anos depois, já com 11 anos de idade, voltou a praticar o esporte, mesmo que ainda sem compromisso.

“Era uma grande brincadeira para mim. Meus pais viam isso e deixavam, mesmo sabendo que não seria nada para o futuro. Só que isso mudou quando voltei aqui para o projeto. Em quase dois anos, melhorei tecnicamente e hoje estou pronta para seguir minha carreira”, contou Brenda.

Nos planos da menina, os estudos não foram deixados de lado. Terminando o ensino médio, quer estudar para ser jornalista, de preferência com uma bolsa de atleta. “Vida de atleta é arriscada, né? Não dá para largar tudo. Vai que algum dia me machuque. Só terei como recorrer aos meus estudos”, analisa.

Uma história parecida com a de Brenda marca a trajetória de Juliana. Há pouco mais de dois anos, ela começou a fazer aulas de judô na escola onde estudava. O seu talento nato fez com que o sensei procurasse por ela e que a levasse para a equipe Waza.

“Não sabia que ia ser assim. Assisti a algumas aulas, depois comecei a treinar e agora estou viajando para disputar títulos. É tudo bem legal e me divirto com o judô”, conta a atleta prodígio. Juliana acabou de retornar da Argentina, onde conquistou o primeiro lugar no Panamericano sub 18.

“Foi uma boa experiência e vencer foi bem legal. Conheci mais um país diferente, além de conhecer muita gente”, contou a campeã.
As duas atletas recebem apoio da Prefeitura de Cariacica, por meio da secretaria de Cultura e Esporte (Semcel). O centro de treinamento funciona na Associação de Moradores de Alto Lage.

Conheça melhor as promessas de Cariacica

Brenda Teixeira Justino

Idade: 16 anos
Judô: graduada na faixa marrom categoria sub 18 (até 48 kg)
Luta olímpica: campeã brasileira na categoria cadete (até 49 kg)
Conquistas: classificou-se na seletiva nacional para o europeu; 3º lugar no brasileiro; 3º lugar nas Olimpíadas Escolares.
Sonho : disputar os Jogos Olímpicos e fazer Jornalismo
Ídolos: Sara Menezes e Leandro Guilheiro.

Juliana Souza Rodrigues

Idade: 14 anos
Judô: graduada na faixa verde
Categoria: sub 18 (até 40 kg)
Conquistas: 1º lugar no Panamericano da Argentina; 3º lugar no circuito europeu na Romênia; 1º lugar no brasileiro disputado na Bahia.
Ídolos: Sara Menezes e Leandro Guilheiro

Rotina de treino

Os treinos da dupla vão de segunda a quinta-feira, nos períodos da tarde e da noite. Segundas e quartas fazem academia e treinamento funcional, que é a realização de um circuito com vários exercícios ajudando a desenvolver movimentos e golpes durante as lutas.

Já às terças e quintas, os treinos são no tatame do centro de treinamento, com repetição de golpes e aulas para desenvolverem novas técnicas de luta.

Para manter este pique, as duas procuram manter uma alimentação equilibrada. Juliana, que mora com o sensei, é orientada por ele para se alimentar com frutas, arroz e pão integrais, sempre intercalados de três em três horas. Além disso, as refeições noturnas são leves.

Brenda também tem refeição equilibrada. No menu da atleta, o café da manhã tem frutas. Na escola, um lanche leve. No almoço, carboidratos e proteína para saciar a fome e, à noite, cansada do treino, nem janta, ficando apenas com um copo de suco.

“Mas o bom mesmo é depois da pesagem, porque aí pode tudo, até x-tudo, x-burguer, tudo bem gostoso e liberado”, conta Brenda, rindo.

Na véspera das lutas, o mesmo drama de lutadores de MMA, ou seja, a perda de peso. Mas, no caso das meninas, é uma fase fácil. Com peso em torno de 50 quilos, Brenda precisa perder dois, assim como Juliana, que pesa 40 e precisa descer apenas dois. “Consigo perdê-los em apenas um treino, enrolada com saco plástico. Quando a pesagem é no dia anterior, é mais fácil ainda, pois dá pra recuperarmos melhor para a luta”, contou Juliana.

Ídolos

No judô, Juliana ainda não esboça um sonho estruturado. Com Brenda é diferente. Diz que é o sonho dela participar de competições adultas pela Seleção Brasileira. “Uma Olimpíada é o alvo maior. É o sonho de qualquer atleta e, treinando e com foco, a gente consegue. Meus ídolos são Sara Menezes e Leandro Guilheiro e, se pudesse, perguntaria aos dois o que eles fizeram e como chegaram até o topo”, conta.

Judô no dia a dia

“Eu era uma peste na escola e só mudei depois de começar a fazer judô com determinação. A disciplina do esporte me ajudou bastante. Mudei meu comportamento pois os nossos mestres sempre cobravam”, confessou Brenda.

A colega é mais traquila, mas afirma que antes do judô ficava mais na rua do que dentro de casa. “Gostava de ficar na rua, mas era quietinha na escola. Hoje sou mais concentrada nos treinos“, compara.

Viagens para fora do país

Para competições, as meninas já viajaram para diversos Estados e conheceram alguns países. Juntas foram à Alemanha e à Romênia. Além desses, Juliana também já foi à Argentina. Mas a rotina de viagens em competição não lhes dá muito tempo para fazer turismo.

“Quando viajamos, nós nos concentramos e treinamos pela manhã e à tarde e nem passeamos. Os treinos foram com a seleção toda, e com todos os países. Só conhecemos os hotéis mesmo. Em Berlim, na Alemanha, foi a única exceção. No último dia, visitamos alguns lugares como o Muro de Berlim. Foi bem legal”, conta Brenda. “Além disso fizemos amizades, principalmente com os romenos e com atletas brasileiros de outros Estados. Só na Seleção Brasileira foram 30 atletas durante a viagem”, lembra Juliana.

Treinos no Centro de Luta

Galeria de imagens

Semco/Claudio Postay

Informações Adicionais:
Texto: Marlon Marques
Jornalista responsável:Marcelo Pereira