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Carnaval 2017: Boa Vista movimenta economia local em busca do tetracampeonato
Carnaval é samba no pé mas também é emprego e movimentação de renda. Para que uma grande escola faça bonito na avenida há um contingente de profissionais nos bastidores: aderecistas, técnicos em mecânica, costureiras, artesãos, serralheiros entre outros. Por causa dessa necessidade de profissionalização, uma agremiação como a do porte da Independente de Boa Vista termina por não apenas fazer um enredo se transformar num desfile impecável mas também colabora aquecendo a economia do município. A escola, que este ano é a última a desfilar na madrugada de sábado (18) sob tema da cultura cigana, não quer contar apenas com a sorte e os bons augúrios. Seu desempenho está ligado ao trabalho e dedicação 100% de seus integrantes. "A mão-de-obra é, de preferência, toda de Cariacica", aponta a coordenadora do ateliê central da Boa Vista, Gisely Machado. No local, em Itaquari, são confeccionados componentes de finalização de fantasias, adereços e detalhes dos carros alegóricos. E a movimentação é a todo vapor. Gisely contabiliza 90 funcionários na folha de pagamento atuando ali e também na quadra e no barracão da escola, onde os carros são montados. Dependendo da grandiosidade do que vai ser apresentado no Sambão do Povo, pode-se chegar a 100 trabalhadores. "A escola contribui com a geração de empregos da cidade. Além de ser um trabalho que passa pela paixão das pessoas pelo samba, também significa um ganho a mais em seu orçamento", explica. O enfermeiro Carlos José dos Santos, o Zezinho da Boa, é responsável por alimentar o pessoal do ateliê além de atuar também como aderecista na escola. "O que ganho aqui com essas funções no período do pré-desfile é um bom reforço em meu salário do outro emprego. Faço e sirvo o café da manhã, almoço e jantar para as equipes, de segunda a domingo, enquanto as fantasias, as alas e os carros alegóricos vão tomando forma", informa. O chef do ateliê é um dos passistas da agremiação. "Trabalhar para a escola do seu coração tem esse lado da entrega. A remuneração é simbólica mas é uma ajuda bem-vinda na renda pessoal", reforça. Responsável pela estrutura metálica das fantasias, o mecânico industrial Rômulo Barreto também faz do trabalho na Boa Vista uma renda a mais em seu salário. "No acabamento de alguns figurinos, os acessórios e enfeites precisam de sustentação. E isso só é possível instalando, por exemplo, peças de arame ou ferro que elas farão o trabalho de suporte aos tecidos, penachos, lantejoulas ou o que a imaginação do carnavalesco determinar", sintetiza. Atualmente, trabalhando num supermercado, Barreto dá continuidade a uma tradição de começo de ano: há 15 anos, ele atua na montagem das estruturas de ferro da escola. "Fui me aprimorando com a experiência e sempre sou convocado para este serviço", detalha. Empresas locais A Prefeitura de Cariacica, através da Secretaria Municipal de Cultura (Semcult), mantém um convênio com a Independente de Boa Vista. O valor do repasse, atualmente, está em R$ 150 mil. O presidente da Boa Vista, o intérprete Emerson Xumbrega, aponta que a agremiação tem responsabilidade social na administração do recurso e se preocupa no retorno para o município. "A Boa Vista está ciente de que é necessário que haja este retribuição. A escola fortalece a economia de Cariacica. Tudo relacionado à matéria-prima e serviços para botar a escola na avenida é feita, na maioria, com empresas da nossa cidade", declara. Ele calcula que a contratação de serviços e compra de material seja de 80% com empresas de Cariacica. Assim, a escola, além de empregar pessoas do município, auxilia geração de desenvolvimento e oportunidades de negócios. Renda própria A Boa Vista não é ligada à Prefeitura de Cariacica. É uma empresa e, como toda entidade privada de negócios, deve gerar receita para se manter. É o que ela faz durante todo o ano e não somente na época de desfile. A escola mantém um calendário de apresentações em eventos a fim de contabilizar recursos para que se estruture para o espetáculo do Sambão do Povo. "Nós nos apresentamos em feiras de Carnaval, festas e eventos particulares. Nossos artistas estão atuando mediante pagamento, o que mantém saldo positivo em caixa para nossos investimentos e para honrarmos nossos compromissos", aponta o presidente. Além das performances fora de Cariacica, o calendário dos ensaios na quadra da Boa, em Itaquari, também é outra oportunidade para manter caixa e aquecer o mercado da região. "Os ensaios trazem pessoas de bairros e cidades vizinhas para prestigiar nosso samba. Naturalmente, elas consomem aqui na cidade. Ganha a escola e ganha também o comércio e os serviços aqui ao redor", destaca.