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Comunidades de terreiros recebem carteira de identificação

Em mais um projeto pioneiro no município para o resgate e valorização das matrizes africanas, as comunidades de terreiros mapeadas agora estão certificadas com as carteiras de identificação. O reconhecimento dos barracões busca preservar os direitos dos adeptos e fortalecer a tradição cultural e religiosa das casas, para que as políticas públicas necessárias cheguem até eles. O Projeto “Identificação das Comunidades Tradicionais de Terreiros em Cariacica”, conduzido pela Gerência de Política de Promoção de Igualdade Racial, da Secretaria de Desenvolvimento Social (Semdes), mapeou 36 terreiros que foram cadastrados para receber a carteira de identificação. O documento de registro, que está sendo entregue aos babalorixá (pai de santo) e ialarixá (mãe de santo), contribuirá para que os direitos das comunidades sejam garantidos e tenham acesso às políticas públicas, conforme previsto na lei federal n°12.288. As comunidades de terreiros serão cadastras nos programas sociais, como no Cadastro Único e no serviço de segurança alimentar, conseguindo os benefícios que os programas do Governo Federal garantem. A carteira ainda vai viabilizar o acesso aos espaços públicos, como entrada em hospitais e presídios. Vera Maria das Dores Calazans,  ialorixa do templo de umbanda IIe Ase Oloroke Omo Oju Oya, que fica na comunidade de Vista Linda, um dos mais antigos do município, com mais de 50 anos de criação, reconhece o avanço para as casas na aquisição da carteirinha. “Essa carteira representa uma nova certidão de nascimento não só pra mim, como para os barracões e quem faz parte dela por causa do reconhecimento”, contou. Militante de movimentos negros, mãe Vera relembra que ao longo do processo histórico do Brasil, a repressão acompanhou a resistência dessas casas. “Essas comunidades sempre foram vítimas de preconceito, atos de intolerância e discriminação. A nossa luta vem desde a escravidão. Essas ações ajudam a manter viva a tradição cultural e religiosa desses barracões”, completou. Vera ainda coordena o projeto Curumim Joiá, que oferece oficinas para crianças carentes da região, resgatando os valores das matrizes africanas. A entrega das carteiras aos terreiros mapeados integra mais uma etapa do projeto da Semdes para o enfrentamento à intolerância e à discriminação religiosa, por meio do diagnóstico dos barracões, reconhecimento pela Prefeitura e acesso aos direitos garantidos a essas casas. Neste ano, pelo Decreto 59, também foi criado o “Selo Intolerância Zero”, entregue para todas as casas mapeadas e marcou o início do trabalho de censo das matrizes da cidade. “O trabalho de Enfrentamento à Intolerância e à Discriminação Religiosa já acontece desde 2013, com Conferência Municipal de Promoção da Igualda Racial, quando houve a discussão para o aprofundamento de políticas públicas que incluam essas comunidades. Através do diagnóstico das casas de matrizes africanas, o município deu um importante passo na valorização do legado cultural e de respeito às diferenças”, explicou Adriana Silva, Gerente de Promoção da Igualdade Racial. A pesquisa socioeconômica e cultural das comunidades de terreiro foi realizada em 27 bairros do município, identificando as casas com a essência da matriz cultural africana e afro-brasileira. O levantamento registrou 1.216 adeptos e 4.290 pessoas que frequentam nos dias ritualísticos. A mãe Anajete, do Terreiro Nzo’ianguzu Nganga Kilumino Nkise Nzazi, que fica no bairro Planeta, destacou o importante passo que o município está dando para contribuir com o reconhecimento e quebra de tabus relacionados à religião. “Abri esta Casa de Candomblé há 36 anos e já passamos por inúmeras manifestações de preconceito e descriminação. O trabalho de valorização das matrizes africanas que vem sendo realizado com o selo de intolerância e carteira de identificação representam importantes passos para o reconhecimento das casas e a promoção da cultura dos direitos humanos”, finalizou. Comunidades de terreiro de Cariacica: 

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