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Professores discutem formas de inserir cultura africana no currículo escolar

Professores, pedagogos e representantes do movimento negro se reuniram na última sexta-feira (16), no auditório da Secretaria Municipal de Educação (Seme), para encontrar formas de efetivar a inserção da cultura africana dentro das escolas públicas. A proposta é lei desde 2003, mas, mesmo após 10 anos de sua implementação, educadores e poder público enfrentam dificuldades para superar algumas barreiras. No evento, foram ministradas palestras que visavam a formação de professores nesta temática. ma das palestrantes, a pedagoga e diretora de educação da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Heloísa Ivone da Silva Carvalho, conta que a visão da África nas escolas ainda é feita de maneira eurocêntrica. “A maioria dos livros didáticos ainda limita a história africana a ser contada apenas a partir da escravidão, uma visão negativa para muitas crianças. É preciso contar a história de outra forma, com o negro também como um sujeito de ação”, explica. Também estiveram na palestra o advogado José Roberto de Andrade, representando a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/ES, e um representante do Fórum de Casas Africanas de Cariacica, Carlos Henrique Januário. Andrade destacou os aspectos legais da Lei 10.639/2003 “A função dela é cobrar do poder público mas em alguns municípios ela é difícil de implementar devido à disputas políticas e ao preconceito de alguns grupos por religiões de matrizes africanas”, frisou. O representante da comunidade africana se colocou à disposição das escolas e educadores para palestras e atividades culturais. “Devemos incentivar o diálogo entre a comunidade escolar e os grupos de matrizes afro a fim de combater o preconceito”, recomendou. Grupos de trabalho Na plateia, havia representantes do chamado Grupo de Trabalho de Educação Étnico-Racial, de Cariacica. Atualmente, é formado por 44 integrantes, que discutem formas de integrar esse conteúdo no currículo escolar. “No início eram para ser 40 vagas para o grupo e, mesmo não sendo nada imposto, acabamos fechando o grupo com 44 pessoas, o que mostra o interesse do professor. Nosso trabalho vai desde compartilhar ideias para o ensino até acompanhar essa implementação dentro das escolas. Em novembro tem o dia da Consciência Negra e os professores destacam a cultura negra durante o mês, mas não se pode deixar isso terminar por aí, integrar ao currículo significa ensinar isso durante o ano todo”, conta Karolini Patuzzo, membro do grupo. Outra participante é a professora Ana Lúcia da Rocha Conceição. Ela é autora do livro “As bandas de congo de Cariacica: como toca o tambor no ensino histórico” e está há seis anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Nilton Gomes, no bairro Cruzeiro do Sul. Desde 2004, tem procurado formas de inserir a cultura africana no currículo, trabalho que lhe rendeu uma premiação da Fundação Banco do Brasil. “O Brasil, por si só, é o segundo maior país com população de negros, atrás apenas da Nigéria, e Cariacica é um município que tem muito de sua história vinculada à cultura africana. Além da sala de aula é preciso se pensar em ações para integrar esses estudos, como oficinas de capoeira, visitação ao patrimônio cultural do município, conhecer o congo de Roda d’Água, entre outras coisas. São projetos que dão trabalho, mas é preciso levar eles para dentro da escola”, revela.